Especialistas alertam para os cuidados em relação à tech neck, síndrome do pescoço de texto

Talvez a maioria das pessoas nem se dê conta, mas muitos sofrem de uma patologia bem recorrente dos dias atuais por conta da tecnologia: a tech neck, termo em inglês designada para a síndrome do pescoço tecnológico ou síndrome do pescoço de texto. É o caso de inúmeros profissionais que passam horas a fio sentados na frente do computador ou abaixando a cabeça para checar informações no celular.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 80% da população mundial têm, teve ou terá dores nas costas provocadas por esta doença que já está sendo chamada por médicos de crise dos tempos modernos. No Brasil, ainda de acordo com a OMS, cerca de 60 milhões de cidadãos são afetados por problemas de coluna e postura errada. O que corresponde a pelo menos 37% da população. 

Já uma pesquisa realizada pela empresa de audiência GlobalWebIndex mostra que o Brasil é o terceiro país do mundo em que as pessoas dedicam mais horas do seu dia ao celular. São três horas e 14 minutos por dia conectados. Entre os jovens, o número sobe para quatro horas por dia, o que equivale a 1.460 horas por ano.
De acordo com especialistas, o problema ocorre por conta da curvatura. Ao inclinar o olhar para baixo por várias horas, há o aumento da gravidade sobre o crânio, e, assim, sobrecarregando os músculos dos ombros, costas e região do tórax. Um movimento realizado, sobretudo, por conta do uso excessivo de aparelhos eletrônicos, intensificado durante e após a pandemia por conta dos trabalhos remotos.

“Essa síndrome é sim desses últimos anos, uma alusão ao uso contínuo, rotineiro de crianças, adultos e idosos dos aparelhos eletrônicos e com isso criando vícios de postura, causando dor, rigidez, limitação da amplitude de movimento”, elenca o ortopedista, José Fernandes Boaventura Cavalcante. “A cabeça humana e o pescoço pesam cerca de 6kg em posição neutra, quando está ereto. Quando há inclinação da cabeça, a força transmitida para a coluna aumenta de forma considerável”, explica o neurocirurgião, Henrique Lira. 

A síndrome evolui de forma silenciosa. Geralmente as vítimas dos problemas só percebem a situação em estágio bastante avançado, sendo a dor no pescoço o indício mais evidente. Foi o que aconteceu com o estudante de concurso, Adalto Mateus Vitória Júnior, 34 anos, que dedica pelo menos 15h do dia se debruçando sobre os livros ou diante do computador. Inevitável que, por conta da postura na cadeira, nos últimos meses tenha sofrido com dores no pescoço e nos braços. Não teve jeito, buscou atendimento médico. 

“Desde um ano atrás  comecei a sentir muitas dores no pescoço e em alguns momentos até nos braços por conta da postura. Fui ao médico porque as dores começaram aumentar de uma forma que não estava dando conta mais”, relata o concurseiro. “O médico indicou uma fisioterapia e pediu para trocar a cadeira e comprar um suporte para os livros e computador”, explica o estudante. 

Os sintomas da tech neck são dor e rigidez no pescoço, nos ombros e na parte superior das costas, além de queimação, podendo surgir pequenos nódulos que aparecem na musculatura da parte de trás do pescoço. “O diagnóstico é clínico. Os pacientes chegam com queixa de dor, limitação funcional, rigidez principalmente na região da musculatura do pescoço e na região da coluna dorsal”, detalha o ortopedista José Fernandes. 

Entre as dicas para evitar a síndrome da tech neck estão manter a boa postura enquanto se usa o celular, posicionando a tela ou o livro na altura dos olhos. Fazer alongamentos circulares de pescoço ao longo dia. Também praticar exercícios com frequências com o intuito de fortalecer os músculos das costas, com isso favorecendo a postura corporal. 

Embora ortopedista desde 2009, o pediatra José Fernandes alerta para os problemas que vão além das alterações músculo-esqueléticas, mas sobretudo das alterações neurológicas causadas pelos vício nos aparelhos eletrônicos. Por isso, convoca as pessoas a se informarem mais sobre o assunto, estabelecendo regras de uso entre os mais jovens, principalmente. 

“A neurociência já provou de alterações de comportamentos de crianças que não têm interesse em socializar, em brincar, interesse em mais nada que seja de eletrônico, sofrendo de anedonia, ou seja, sem prazer, motivação para fazer as coisas”, alerta. “Então para todas as faixas-etárias, que sejam estabelecidos limites e regras de uso,” aconselha.
 

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