Imagine que você está conversando com amigos em uma tarde tranquila. De repente, percebe que não está conseguindo acompanhar o raciocínio do grupo. As palavras fogem da sua cabeça, e se expressar parece um desafio. Na hora de se despedir, acaba se esquecendo do nome de um deles, embora se conheçam há anos. Depois, quando vai para casa, sente-se desorientado, sem saber como chegar ao lugar onde mora.

Esquecimento, confusão mental e dificuldades para se comunicar são alguns dos sintomas do Alzheimer, doença que afeta 1,2 milhão de brasileiros, segundo o Ministério da Saúde.

Ainda que não haja uma cura, os remédios disponíveis hoje podem estabilizar o quadro do pacienteÉ o que explica Ivan Okamoto, neurologista do Núcleo de Memória (Nemo) do Hospital Israelita Albert Einstein.

“Nós não temos medicações atuais que revertam esse processo no cérebro, mas elas podem minimizar o impacto da doença. Antes, entre a independência do paciente até a dependência, você levava de 8 a 10 anos. Hoje se fala entre 14 e 18 anos”, afirma.

Como é o tratamento para Alzheimer hoje?

A terapia varia de acordo com o estágio da doença. Em casos leves e moderados, o paciente deve tomar remédios como donepezila, galantamina e rivastigmina, que auxiliam na comunicação entre os neurônios e são capazes de reduzir temporariamente os sintomas.

Na fase grave, em que o paciente costuma ter dificuldades até para comer, é prescrita a memantina. O remédio atua sobre um neurotransmissor responsável por armazenar informações no cérebro, o que melhora a memória e pode ajudar na execução de tarefas simples.

A doença também afeta o comportamento do paciente, que pode ficar mais agressivo ou irritado. Nesses casos, é recomendado o uso de remédios para os sintomas específicos, de acordo com Okamoto.

No Brasil, a última aprovação de remédios para Alzheimer ocorreu há 20 anos, em 2003. Em duas décadas, pesquisadores tentaram desenvolver novas terapias para o Alzheimer, mas ainda sem sucesso.

Algumas possibilidades de tratamento surgiram nos Estados Unidos, onde ocorreu, nos últimos dois anos, a aprovação de dois remédios para Alzheimer pela FDA – instituição equivalente à Anvisa naquele país.

Em janeiro deste ano, a agência americana deu sinal verde para o uso do lecanemab em pacientes. Uma pesquisa publicada em novembro de 2022 na revista científica New England Journal of Medicine mostrou que o remédio reduziu o declínio cognitivo de pessoas com Alzheimer. Mas a FDA alertou que o lecanemab ainda apresenta riscos, incluindo de sangramento cerebral.

A agência também aprovou, em junho de 2021, o aducanumab. De acordo com Norberto Frota, professor de medicina da Unifor (Universidade de Fortaleza), o medicamento foi considerado controverso pela comunidade médica, já que não havia evidências suficientes sobre sua eficácia.

Exames e terapias com foco em estilo de vida também fazem parte do tratamento

Apesar da falta de remédios atualizados, novos exames podem aumentar a precisão do diagnóstico, ajudando no tratamento de casos mais leves. De acordo com Norberto Frota, o diagnóstico precoce eleva as chances de uma reabilitação cognitiva, diminuindo déficits causados pela doença.

Um desses exames é o PET amiloide, que chegou ao Brasil no ano passado. Trata-se de uma tomografia cerebral que detecta as proteínas beta-amiloide, que são associadas ao Alzheimer.

Mas os novos exames estão restritos às redes privadas e ainda não são custeados pelos planos de saúde, já que não foram incorporados no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).

Quem é atendido somente pelo SUS pode ter mais dificuldades em detectar a doença na fase inicial. Segundo Norberto Frota, os pacientes costumam chegar à rede pública com o quadro entre leve e moderado.

“Quando há dificuldade de acesso ao atendimento médico, demora mais a chegar ao diagnóstico. Em uma rede suplementar, você tem uma queixa e logo pode marcar a consulta. Nas UBS [Unidades Básicas de Saúde], em casos mais leves, pode ser que você só consiga fazer os exames depois de um ano”, afirma. Por outro lado, todos os medicamentos para tratar o Alzheimer estão disponíveis na rede pública.

Outro desafio do SUS é o tratamento com foco na qualidade de vida, que envolve alimentação saudável, exercícios físicos e terapia ocupacional, de acordo com o professor.

O acesso é mais difícil para quem depende da rede pública, tanto pela falta de especialistas nas unidades de saúde quanto pela dificuldade em manter a rotina de consultas.

Mas o tratamento que não exige remédios pode mudar o progresso da doença. É o que mostrou o estudo Finger, realizado em 2015 na Finlândia. A conclusão foi de que exercícios físicos, nutrição e atividades intelectuais (como organizar fotos de familiares e amigos) podem desacelerar o progresso da doença.

Ainda não há cura para o Alzheimer, e a possibilidade permanece distante, segundo o professor Frota. “Mas, no futuro, podemos ter mais mecanismos que retardem a evolução da doença”, diz.

Fonte: Site TecMundo

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